Valdemar Ferreira Ribeiro
...Navegando nos Mares do Sul ... Observando o Norte
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HOMENAGEM AOS POVOS NATURAIS DA FLORESTA

Uma viagem ao " Alto Xingu " no Brasil continental .
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Conhecer pessoalmente uma aldeia pertencente às Nações Indígenas do "Alto Xingu" no noroeste do Brasil e perto da floresta Amazônia , é um privilégio acessível a poucos pois é bastante difícil poder e ser autorizado a chegar lá e só contatando diretamente com algum dos índios responsáveis da aldeia que se pretende visitar e com autorização da "FUNAI" , Instituição Estatal sediado em Brasília que controla as nações indígenas no Brasil , é possível organizar essa viagem que já de si é difícil devido à localização geográfica das mesmas no interior das florestas brasileiras e às condições de vida local , totalmente diferentes da vida urbana .

Viajando de carro a partir do Rio de Janeiro são precisos quatro dias para atravessar dois mil e trezentos quilômetros e chegar á Serra do Roncador no Estado de Mato Grosso e ; esta viagem é como atravessar a Europa desde Portugal até quase à Alemanha .

Após essa viagem encontra-se a cidade de "Canarana" antes de se chegar à vila denominada "Gaucha do Norte" à beira do rio "Curisevo" que atravessa o Alto Xingu .

A partir deste ponto só é possível viajar em pequenos barcos a motor dirigidos por índios e quem se aventurar a viajar por estes lugares sem autorização e acompanhamento dos índios está sujeito a graves sanções .

Houve um grupo de aventureiros da cidade que tentaram navegar por estes rios com o apoio financeiro de uma empresa bem conhecida no Brasil mas sem autorização dos responsáveis indígenas mas logo que foram descobertos pelos índios foram presos , despidos de suas roupas e pertences e de seus barcos e expulsos com violência da região .

São necessárias seis horas subindo o rio Curisevo para se encontrar a aldeia "Imihinako" , cujo cacique se chama "Jumuin" , com cerca de 150 índios entre homens , mulheres e crianças e umas quinze "ocas" , casas tipo jangos feitas de troncos fortes e capim mas que suportam perfeitamente qualquer temporal sem cair uma gota de água dentro delas , localizadas ao redor de um terreiro com duzentos metros de raio e por detrás das casas , distanciadas uns cincoenta metros ,  há a floresta virgem .

Os índios dormem em redes penduradas nos troncos das ocas e ainda o dia não nasceu e cada um deles , os mais velhos e mulheres junto com as crianças , fazem uma pequena fogueira ao lado da rede para se aquecerem e iniciarem o dia.

Os homens adultos , de madrugada se não chover fazem uma fogueira no centro do terreiro aonde se aquecem e vibram suas flautas iniciando mais um dia de caça e pesca para alimentar a todos na tribo .

A aldeia fica a um quilômetro de distância do rio e diariamente há rituais de danças festivas .

O espaço da aldeia é totalmente limpo e não existem lixos nem qualquer outro foco de doenças e dentro das casas há higiene completa , a água que bebem é trazida do rio em panelas diariamente e constantemente todos tomam banho no rio de águas puras e cristalinas .

Dia a dia os homens vão pescar e caçar e as mulheres cuidam das crianças e preparam a mandioca como pão , tipo massa fina de pizza ,   e  não  têm desperdício de alimentos .

A alimentação básica é constituída de carne de peixe ou algum outro animal , frutas da floresta e mandioca torrada e nota-se perfeitamente uma vida saudável e harmoniosa em total equilíbrio ecológico e social .

A vida cultural fundamenta-se no sustento do dia a dia e mais as informações necessárias e suficientes para uma harmonia diária e feliz tanto assim que a liderança da tribo pertence ao mais velho e este não manda ,   apenas aconselha nas situações que exigem sua participação .

Hoje em dia algumas dessas tribos já utilizam a televisão usando a energia solar não poluente pois a informação global tornou-se uma necessidade cultural premente para que entre os povos diminua o abismo cultural mesmo havendo riscos de aculturação de valores menos nobres mas estes podem ser evitados através de uma educação mais atenta.

O povo desta aldeia organizou em 1997 a festa do "Guarupe" em homenagem a alguns de seus parentes mortos nos anos anteriores e só após estes rituais os espíritos dos mortos descansam definitivamente em paz .

Estas festas do "Guarupe" são realizadas sempre de anos em anos de acordo com a quantidade de falecidos na aldeia e acontece durante alguns dias com danças ao som das flautas com um metro de comprimento e são convidadas algumas das aldeias que vivem mais próximas mas estas só aparecem no ultimo dia para as lutas , ao fim das quais regressam às suas aldeias .

É uma comemoração simples , bonita e cheia de espiritualidade e respeito .

Esta aldeia convidou os povos "Iaolapitchi" , "Cuicuru" , "Calapalu " e " Nakkua " que viviam naquela região para a festa na qual os guerreiros mais fortes de cada tribo enfrentam em lutas corpo a corpo os guerreiros da tribo que organiza a festa do "Guarupe " .

Durante a festa e um dia antes das aldeias convidadas comparecerem para as lutas é organizada uma grande pescaria para que não falte alimento aos visitantes .

Nesta festa foi permitida a presença de algumas pessoas da civilização urbana , sendo dois alemães , três japoneses e seis brasileiros e um luso/ango/brasileiro e estes dormiram em redes na casa do cacique , comeram alimentos trazidos da cidade , algum peixe pescado pelos índios e pão feito de mandioca, ficando dez dias ali acampados .

Os seres urbanos que ali chegaram da cidade procuraram integrar-se o melhor possível àquele estilo de vida mas percebia-se algumas dificuldades nessa adaptação tanto ao dormirem nas redes como na alimentação e outras atividades .

Até aqui tudo bem e são compreensíveis essas dificuldades dos humanos que vêm da civilização urbana mas os índios certamente acham engraçado aquelas pessoas vindas da cidade e sua falta de Jeito na relação com a vida natural mas como são muito gentis procuram não demonstrar a comicidade daquela relação mas por vezes algumas situações tornam-se bastante  engraçadas aos observadores mais atentos .

Todos os povos naturais indígenas são sempre muito gentis e curiosos desde que não sejam molestados e sejam respeitados .

Naquela festa do "Guarupe" alguns dos visitantes que chegaram da cidade ao passarem por aquela floresta limpa deixaram os rastros de suas necessidades fisiológicas a que chamaremos de " pôias" com seus cheiros característicos e como se isso não bastasse ainda embandeiraram as mesmas com papel higiénico .

Os povos da floresta e os povos indígenas naturais não deixam rastros nem cheiros de suas necessidades fisiológicas pois têm uma alimentação constituída de peixes , mandioca e outros alimentos naturais e sabem viver em equilíbrio ecológico , em harmonia com o ambiente ao redor pois enterram e camuflam os seus dejetos .

Os humanos ditos civilizados são incapazes de se harmonizar com aquele espaço equilibrado e sinalizam com seus excrementos , através dos ventos e da visão , que ali passaram , tornando-se bastante hilariante estas  situações  se não tivessem o seu lado trágico e  anti-higiénico .

Os índios que ainda vivem naturalmente não agem assim pois têm consciência desses atos e nunca mostraram desprezo perante aqueles desajeitados urbanóides e com isso demonstram que muitos humanos têm muito que aprender com os povos da floresta e com os povos indígenas quando vivem de forma natural .

Ser educado ou civilizado exige que quem entra no espaço dos outros ou no seu próprio espaço não deve sujar ou estragar o mesmo e se possível deve deixá-lo mais limpo e arrumado do que o encontrou .
Valdemar Ribeiro
Enviado por Valdemar Ribeiro em 06/07/2005
Alterado em 02/11/2018