A QUEDA DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
O autor desta história, em 1974 já era um homem, menino ainda, com vinte e dois anos de idade e fazia parte do agrupamento militar português que tentava formar às pressas a primeira Companhia de Pára-quedistas de Angola e um dia de manhã, neste ano, a caminho do quartel na Samba aonde trabalhava , ia na sua moto quando passou em frente ao antigo CINE N' GOLA , no bairro da Terra Nova .
Exatamente naquele horário, dentro e fora do cinema acontecia uma confusão geral entre os populares tentando invadir o Shoping existente junto ao cinema pois a cidade já vivia em anarquia com o abandono do comando administrativo do território pelo Governo civil e militar português , apesar deste governo ainda não ter sido destituído oficialmente dessas funções , na altura .
As invasões populares das residências e lojas estavam no inicio.
Apercebendo-se daquela confusão junto ao Cine N' Gola , este militar pára-quedista apesar de estar desarmado mas confiando no seu bom senso , quis ajudar a amainar os ânimos e evitar aquela invasão
Parou sua moto ali perto e viu que no meio da confusão estava um policial branco da policia portuguesa, fardado, e a multidão tentava linchá-lo pois o policial usou sua pistola contra a população achando que assim controlaria a mesma .
Naturalmente, naquela conjuntura que se vivia, a multidão iria reagir atacando e o policial não sabendo agir foi agredido .
Intuindo que o policial não sairia dali com vida, este militar pediu a ajuda de alguns outros militares autóctones das tropas portuguesas que passavam por ali a pé e juntamente com eles conseguiram acalmar a multidão e foi possível ao policial fugir dali .
A multidão no entanto voltou aos saques do shoping no Cine N' Gola .
Nada havia a fazer .
Entretanto passava por ali um camião do exército com militares dos "comandos" desarmados e este militar junto com os outros militares autóctones pediram ajuda deles para ver se era possível acalmar a população e impedir o saque .
Os "comandos" apercebendo-se da situação acharam melhor não interferir e foram embora .
Diante disso , este militar subiu na sua moto , despediu-se dos outros militares que o ajudaram e foi embora para o quartel dos Pára-quedistas na Samba .
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Em 1974 deu-se o fim da Era Colonial e em Angola, o governo civil e militar português tentava de forma empírica e às pressas , pois queria abandonar o território de qualquer maneira , fazer acordos com os três Movimentos Nacionalistas FNLA , UNITA e MPLA forçando acordos que não podiam dar certo pois o descontrole era visível e global e ninguém mais sabia quem comandava o quê e diante daquela situação os Movimentos Nacionalistas buscavam posições que lhes permitissem alcançar posições político/militares mais favoráveis .
E a desordem começou a ser geral , envolvendo a todos independentemente de seu pensar e do agir , de suas cores partidárias , de serem ou não a favor ou contra a guerra colonial , de serem ou não angolanos ou portugueses , etc , ou seja , viver em Angola naquele momento era um enorme risco para todos , sem excepção , e o salve-se quem puder generalizou-se .
Todas as pessoas que formavam os Movimentos Nacionalistas e as outras pessoas apoiantes ou não dos Movimentos foram envolvidas por todo este processo descontrolado , pois o Governo e os militares portugueses deixaram de assumir suas responsabilidades numa atitude que denotava que o problema não era deles - Governo Português , prejudicando a todos os envolvidos com Angola e que desejavam um País e uma Nação irmanada , numa mudança mais organizada e bem feita .
O Governo e os militares portugueses cumpriam "Comissões ou missões" e portanto estavam ali em Angola ou nos outros territórios nessas funções .
Os civis do Governo poucos ou nenhum risco corriam e eram bastante favorecidos pelo sistema colonial , os militares de altas patentes também eram favorecidos mas os militares de menor patente é que iam para as áreas de contenda correndo riscos de vida e a situação destes militares era a menos agradável com certeza .
De uma maneira muito geral , os civis que vieram de Portugal para colonizarem os territórios vinham com um espírito de fixação a naturalmente tentavam integrar-se ao "modus vivendi" conjuntural .
Destes civis , uma parte adoptavam o espírito angolano e queriam fazer parte desta nova sociedade integrados aos autóctones e até absorvendo valores da cultura africana , uma outra parte queria ficar em Angola achando que iria sempre comandar sem ou com pouca integração - estilo inglês - e uma outra parte achava que vinha trabalhar alguns anos , amealhava alguns dinheiros e voltava para a sua terra natal ..
Haviam os que se auto-denominavam brancos de primeira , governantes ou donos de fortunas e de situações mais favorecidas que viviam em Portugal Continental e de lá ordenavam e ordenhavam sem deixar nada ou deixando pouco nas colônias e no máximo iam às colônias cumprir alguma comissãozita de serviço que lhes acrescentá-se umas patacas ao seus felpudos salários pagos pelo Governo da Metrópole .
Essa riqueza financeira que o Governo Colonial arrecadava e distribuía uma parte pelos seus "fieis" e a outra parte guardava no banco em barras de ouro , vinha do esforço dos trabalhadores e empresários que produziam novas riquezas nas Províncias , ganhos esses produzidos por empresas muitas delas utilizando as melhores tecnologias existentes e muitos desses empresários tinham , já na época , uma visão mais ampla e moderna da economia global .
Na realidade , o chamado Império Colonial pertencia apenas a alguns poucos que na Metrópole eram os Senhores Feudais e desta patota não faziam parte a grande maioria daqueles portugueses que para as províncias foram trabalhar pois no Continente a vida era muito difícil para uma maioria silenciosa manietada mentalmente de todas as formas .
Na década de 1950/1970 a conjuntura sócio/política nas províncias beneficiava bastante quem era branco mas os autóctones nacionalistas com suas lutas pela liberdade , implícitas e explicitas , iam aos poucos conquistando espaço real sócio/político e econômico ..
Os Nacionalistas , com sua luta pela dignidade e liberdade , serviram de exemplo àqueles que vieram de Portugal Continental e se radicaram em Angola e àqueles que após o término de suas missões de trabalho voltavam para o Continente , principalmente os militares .
Muitas das pessoas radicadas em Angola e nos outros territórios ultramarinos e os regressados à Metrópole antes de 1974 desenvolveram suas consciências sobre a realidade colonial e foi dessa consciência que nasceram as mudanças de 1974 , a chamada Revolução dos capitães de Abril .
Essa Revolução de Abril nasceu , em grande parte , das sementes plantadas pelos nacionalistas Angolanos e dos outros territórios ..
No entanto , a confusão gerada durante e após essa Revolução foi causada principalmente por aqueles que não queriam perder os benefícios do chamado Império Colonial pois ganhavam bastante com ele sem muito esforço intelectual ou físico pois viviam nos seus palácios .
Os que beneficiavam mais do Império foram os mais interessados na desordem sócio/política instalada após 1974 pois algumas dessas pessoas achavam que ainda era possível o retorno ao Império e davam os últimos suspiros mas com essa desordem conseguiram causar muitos estragos a todos , principalmente àqueles que desejavam um novo país integrado , desenvolvido e mais livre e até hoje o mal é visível .
Claro que os resultados não agradaram a ninguém , nem aos que por alguma razão tiveram de abandonar seus pertences e ir embora como também aos nacionalistas que tiveram de administrar um novo país bastante desorganizado e despreparado administrativamente .
Existiam também os países do Leste e do Ocidente muito interessados na desordem e desestabilização e se aproveitaram disso , da desgraça de outros , lançando imediatamente suas garras .
Mas é evidente que a grande confusão gerou-se da falta de comando e organização dos governantes portugueses que comandavam civil e militarmente os territórios coloniais e esses responsáveis deveriam ter respondido em tribunal internacional por isso .
Todos aqueles que aceitam a responsabilidade de governarem , não importa em que país nem em qual tempo , respondem por sua gestão e se não querem assumir essa responsabilidade então não aceitem esses cargos de governo .
Querer beneficiar desses cargos de governo mas depois não querer responder pela sua gestão , aí há contradição .
A sorte desses responsáveis pela desordem causada no seu pseudo-império colonial é que a conjuntura política mundial até à alguns anos atrás não se preocupava com essa responsabilização ..
Na África do Sul , após sua independência , foi constituído um tribunal civil aonde os responsáveis pelo Apartheid tiveram de responder e foram condenados moralmente.
Hoje os tempos são outros e é necessário caminhar para a frente nestes novos tempos onde os ventos são outros e por vezes difíceis mas não se pode perder tempo nem ficar âncorado a um passado pouco interessante mas é preciso compreender esse passado aprendendo as lições para não se repetirem erros semelhantes .
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Em 1974 e 1975 , durante a confusão que foi a descolonização, os governantes portugueses militares e os civis de alta patente que viviam nos ainda territórios coloniais "souberam " aproveitar os melhores lugares nos aviões e nos navios para "safarem-se "da confusão gerada por eles e pelos governantes que viviam em Portugal e " souberam " também levar seus pertences pois aí , nos aviões e nos navios , eles não deixaram de "comandar "os melhores lugares para si e suas famílias , para desespero das outras famílias com menor patente ou menor culpa na desordem pois eram apenas simples trabalhadores .
Diante de uma situação aonde claramente se percebia uma confusão total , aonde ninguém comandava e os próprios militares fugiam do caos gerado pelos governantes civis e militares , como no exemplo descrito no inicio deste ensaio , qual o caminho a decidir ?
Os ingleses , na áfrica do Sul , e diante da experiência portuguesa aprenderam e agiram diferente .
Mas e aqui ? como fazer diante do caos ?
Arriscar ? e a família aonde ficava ? e quem não gosta de confusão ?
Aqueles que não queriam confusão e acharam que lá fora encontrariam um caminhar mais tranqüilo foram embora para outros países , não só Portugal , muitos deles para começarem uma vida nova , o que não é fácil certamente mais ainda quando não é uma opção pessoal .
Haviam aqueles que queriam sair mas não podiam por diversas razões , uma delas era começar uma vida totalmente nova em outro espaço desconhecido , aqui pelo menos conheciam algumas das linhas e das agulhas com que se costurava o novo país .
Haviam aqueles , os nacionalistas , que preferiam ficar e ajudar a resolver este caos .
E assim começou a construção de um novo país sonhado de outra maneira mas que os governantes portugueses da altura não souberam ajudar a construir e desenvolver , por incompetência , egoísmo , ganância e falta de sabedoria .
E estes novos países , devagar , vão-se levantando e erguendo , construindo sua dignidade e redescobrindo suas raízes profundas e superficiais e com a sagrada esperança de acreditar num novo presente mais pacífico e num futuro mais radioso .
Angola e os outros países africanos foram os que mais perderam com o implodir da máquina administrativa e técnica colonial ..
Antes de 1950 já muitos pensadores em Portugal e Angola e em outros territórios alertavam para mudanças políticas , sociais e econômicas necessárias e urgentes .
Bastava ser um espectador minimamente atento para ter percebido as mudanças necessárias na construção de uma nova ordem mundial e o caminhar certamente teria sido outro talvez menos conflituoso .
Portugal à época não soube construir sua nova realidade , Portugal e seus governantes civis e militares não souberam fazer a HORA , uma Hora mais interessante e sapiente .
A maioria dos governantes portugueses continuam a não saber fazer as Horas enredados nas teias dos poderes políticos , distraídos com os desfiles nos palácios e nas ganâncias dos dinheiros fáceis vindos do exterior , migalhas ofertadas desta vez pela Europa da CEE a serem cobradas certamente com juros altos , hajam sido investidos ou não em áreas produtivas ou numa real e verdadeira educação universal .
Mais uma vez esquecem que a Nação Lusitana respeitada no mundo e que se deseja não é o Portugal das bolas ou o Portugal dos ""Velhos do Restelo"" ou o Portugal dos políticos mas sim uma Nação de navegantes de mares profundos , uma Nação mais criativa e sem medos dos desafios , onde seus filhos sejam educados numa visão profunda da vida , espelhando-se em países como a Dinamarca , Suécia , Noruega e mais alguns poucos desenvolvidos realmente onde todos os cidadãos são tratadas com o máximo de dignidade e não como seres de inferior qualidade , muitas vezes .
Esse é o Portugal que se deseja ..
Quem mais beneficiou com o caos colonial ?
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As pessoas representantes directos do sistema colonial e sua máquina administrativa de alta patente ganharam mas a médio e longo prazo talvez não tenham motivos para se orgulharem de seu passado e se calhar nem de seu presente .
A harmonia de uma sociedade beneficia a todos e a desarmonia pode aparentemente beneficiar alguns mas na realidade não beneficia ninguém podendo afirmar-se que muitos poucos ganharam na altura com a confusão a não ser os países interessados na desestabilização da região .
Angola e os novos países certamente nada ganharam com esta desorganização pois a sua Independência não foi nenhum favor ofertado pelo país imperial mas outros países ganharam com toda esta confusão a médio e longo prazo e Portugal acabou sendo um deles .
O Brasil quando soube que o pessoal de Angola estava a abandonar o novo país, técnicos, engenheiros, médicos, especialistas em diversas áreas , administradores , empresários , estudantes , etc ., imediatamente abriu suas portas e autorizou a entrada e legalização de quem ali chegasse .
Portugal "teve " que fazer o mesmo ..
Muitos outros países no mundo inteiro abriram suas portas àqueles que buscavam novas paragens para viverem e trabalharem pacificamente .
Quem faz uma Nação é seu povo, quem cria a riqueza num país é seu povo e quanto mais desenvolvido esse povo maior as oportunidades para se desenvolver .
Quem fez a potência econômica e tecnológica que é os Estados Unidos da América ?
Foram os emigrantes idos da Inglaterra , da Itália , da Alemanha , da Espanha e de tantos outros países com sua mão de obra especializada e que sabiam produzir riquezas .
Por quê os Estados Unidos , hoje mais ainda , procuram atrair permanentemente toda a mão-de-obra especializada e de qualidade de outros países , não importa de onde venham , facilitando toda a documentação para a sua residência local e pagando excelentes salários ?
Eles têm plena consciência que quem faz um país é seu povo e quanto mais desenvolvido for esse povo , não importa de onde vem , mais desenvolvido é o país e quando esse povo que vem de fora se integra à comunidade e é respeitado por ela , eles adoptam esse país de acolhimento como sua verdadeira Pátria .
Falando do caso especifico de Portugal e Brasil .
Estes países enriqueceram com a mão-de-obra ida das ex-colónias pois muitos destes novos empresários , especialistas e técnicos , administradores , etc , já utilizavam tecnologias e técnicas modernas nas empresas recentemente construídas nas colônias e usavam as melhores tecnologias no fabrico de seus produtos para enfrentar a concorrência internacional que já era global naquela altura .
Só o facto em si dos emigrantes terem saído de Portugal indo para uma nova região e nova cultura já permite uma nova visão do horizonte , uma visão mais ampla .
Muitos dos empresários estabelecidos em Portugal não se preocupavam em modernizar suas empresas :
Havia pouca concorrência internacional pois os produtos produzidos em Portugal eram facilmente colocados nas colônias tendo ou não qualidade pois era um mercado cativo .
Para modernizar uma empresa e usar novas tecnologias é preciso que os empresários aprendam essas novas tecnologias e aprendam as novas técnicas de administração e isso exige um grande esforço mental e não são muitas as pessoas estabelecidas como empresários ou responsáveis de instituições privadas ou estatais que querem se incomodar fazendo esse esforço pois "pensar exige esforço" e é preciso querer pensar .
O império Soviético implodiu pois suas empresas estatais eram obsoletas e os administradores públicos optavam por uma administração medíocre pois não queriam ser incomodados ou não conseguiam aprender e criavam todos os tipos de obstáculos àquelas pessoas que queriam modernizar o país ou serem mais criativos .
Os administradores públicos e por vezes até os privados quando já estão instalados nos poleiros do poder evitam aqueles que querem ser mais criativos ou inteligentes pois isso certamente pode atrapalhar seus marasmos e eles podem cair de seus poleiros .
Tem sido essa a maior dificuldade no desenvolvimento dos países .
Por outro lado , para modernizar uma empresa é preciso fazer novos investimentos financeiros e em equipamentos e formar mão-de-obra especializada e muitos desses empresários em Portugal antes de 1974 seguiam o exemplo do mestre maior Salazar que tinha os cofres portugueses no banco abarrotados de ouro e em vez de transformar esse ouro em novos investimentos e modernizar o país , esqueceu-se dessa prioridade preferindo manter o país nas brumas da ignorância e sem criatividade , fazendo lembrar uma certa anedota que se conta do sr. Américo Tomáz quando , num desfile militar numa avenida qualquer do seu reino colonial fazia continência às tropas , orgulhoso e de peito estufado , em cima de um palanque que ao ser montado tinham esquecido de colocar um toldo .
Entretanto passou uma gaivota voando baixo e casualmente deixou cair alguns excrementos precisamente em cima da testa do sr Américo mas como quase ninguém notou , este ficou quieto até o desfile acabar , o que não demorou .
Após o término do desfile , discretamente retirou-se e passou a mão pela testa e ao levar a mão ao nariz tentando descobrir o que era , escapou-lhe um comentário em voz baixa : *** : estou com derrame cerebral .
Ora quando acabaram os mercados cativos coloniais , as empresas portuguesas atravessaram sérias dificuldades pois muitas delas não estavam aptas a enfrentar um mercado concorrêncial mais moderno e acirrado .
Nessa hora , a mão-de-obra especializada e moderna que saiu das ex-colónias estavam ali dispostas ao trabalho , com seus conhecimentos e especializações e ajudaram muito estes países a darem um salto para o futuro .
Por causa do desaparecimento dessa mão-de-obra especializada , os países que perderam essa mão de obra atravessaram muitas dificuldades , naturalmente , mas hoje em dia , conscientes disso , já há desejos suficientes para voltar a inverter essas situações .
Os países acolhedores da mão-de-obra saída dos territórios controlados por Portugal foram muito beneficiados com a entrada em seus territórios dessa mão-de-obra especializada e moderna e ainda hoje alguns desses países agradecem isso aos seus novos cidadãos .
Valdemar Ribeiro
Enviado por Valdemar Ribeiro em 25/06/2005
Alterado em 08/11/2018