Valdemar Ferreira Ribeiro
...Navegando nos Mares do Sul ... Observando o Norte
Capa Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
SAGRADA NÃO É A VIDA, AQUI E AGORA ?

"ONDE A DIVINDADE, A CARIDADE, A VIRTUDE, A PERFEIÇÃO É PROCLAMADA, É CONCEITUADA, AÍ HÁ FRAQUEZA". (F. NIETZSCHE)

Quando a vida é um ideal de perfeição, há sempre o risco de conflitos mentais no individuo que não se equilibra em relação ao coletivo que é ou à sociedade à qual pertence mas não é na imperfeição que reside o aprender humano, aqui e agora?

Quem diz que sabe supõe que já não precisa aprender.

Quem no seu exemplo de vida equilibrada se destaca, precisa proclamar-se?

Quem anuncia, supõe saber e os outros devem segui-lo.

Mas quem segue anda em fila, uns atrás dos outros.

Quem não segue anda em linha com os outros, anda na frente com ele mesmo.

Quem se deixa seguir, diz que vê o que interessa aos outros verem para que estes não deixem de o seguir.

Quem segue, supõe ver o que o outro diz ver conceitualmente, se é que ambos vêm alguma coisa, pois quem age indutivamente pela fé, crê, não vê, constrói imagens em sua mente a partir dos conceitos, dogmas ou preconceitos.

Os exércitos funcionam assim e apenas os militares mais graduados podem ter conhecimento do todo da operação militar a ser executada e os subordinados apenas cumprem as ordens dos graduados.

Como o soldado não tem conhecimento do conjunto da operação militar também não pode questioná-la através do pensar evitando-se assim qualquer dificuldade à execução das ordens militares justas ou injustas.

Fazendo uma análise profunda, pode-se questionar se os soldados, quando executam ordens, tais como matar, determinadas por seus superiores hierárquicos não são também responsáveis de seus atos enquanto seres humanos com capacidades de inteligência?

Todos os seres humanos precisam caminhar em comunhão uns com os outros aprendendo todos com todos, todos os dias, através de uma mente dedutiva, cética, otimista, prudente e profunda, uma mente fresca e jovem.

Não são fracos os que necessitam de explorar os fracos?

Tão escravo é o escravo assim como o dono do escravo e este talvez seja mais escravo que o próprio escravo pois torna-se dependente dele.

Os fracos tornam-se cada vez mais fracos se não assumem sua própria capacidade de desenvolver uma inteligência dedutiva através de um desejo bastante para isso, aqui e agora.

Dizem alguns que a vida integral, a verdadeira vida, não é aqui neste planeta, que vida é esta então?

O sentido religioso é o sentido do sagrado mas sagrada não é a vida aqui?

Estará sendo religioso aquele que adorando esculturas reais e imagens conceituais criadas em sua mente, busca outro além ignorando a vida aqui, não se sensibilizando com ela, não sentindo a beleza e a profundidade de cada instante, não de forma conceitual, teórica, mas realmente?

Quem tem medo da dúvida, do questionamento respeitoso?

Não é a dúvida respeitosa o unguento precioso, o azeite, para temperar as ideias mais equilibradas?

Não é a dúvida respeitosa necessária para o desenvolvimento da inteligência profunda?

Se os valores questionados forem os melhores, a dúvida cria uma consciência mais profunda sobre eles.

Se a verdade é um caminho traçado para chegar a algum além, basta cruzar os braços ignorando a vida e esperar a morte mas e se não houver nenhum lugar aonde se chegar?

E se o lugar for aqui e agora? Não será esta atitude um desperdício completo da vida na qual teve o privilégio de nascer?

Porquê o medo de aprofundar as questões através da reflexão e sem preconceitos?

Neste planeta a lógica consciente e dedutiva ainda não é muito considerada por uma maioria humana e este viver social humano é estruturado em castas, umas mais elevadas económica e socialmente e outras menos.

O padrão numismático, o padrão da erudição, o padrão familiar, o padrão religioso, o padrão institucional, criam fronteiras mentais dentro dos grupos sociais humanos, dentro e fora dos países.

A maioria dos seres humanos aceitam como natural as fronteiras geográficas e psíquicas nas sociedades de ontem, de hoje e supõe que assim será no futuro.

Poderá ser ou não, vai depender do "acaso e necessidade" e da competência humana individual e coletiva.

Não se pode esquecer a seguinte realidade: um individuo limpo não quer conviver com um individuo sujo, um erudito prefere lidar com outro também erudito, os ricos preferem lidar com os ricos, etc.

Há um permanente criar de fronteiras entre os indivíduos e entre os grupos humanos pois as energias semelhantes se atraem.

O grupo humano está limitado às próprias fronteiras mentais dos conceitos e preconceitos, razão esta que explica porquê as crianças, antes de serem parametrizadas com conceitos e preconceitos criados pelos adultos, convivem sem dificuldades entre elas, mesmo sem saberem falar a mesma língua e até antes de poderem falar e de pertencerem a diferentes camadas sociais e raciais.

Há seres humanos que buscam eliminar as fronteiras psíquicas dentro de si, evoluindo-se.

Note-se que as fronteiras regionais geográficas apenas ajudarão a criar a diversidade enquadradas numa cultura global pois as condições ecológicas locais são determinantes nas caraterísticas de cada ser tanto físicas como psíquicas.

Ninguém pode desenvolver uma consciência profunda nos outros seres humanos pois tem de ser cada um a construir em si um equilíbrio mental, dia após dia e não através de fórmulas prontas ou de um estalar de dedos de outrem ou seguindo algum guru ou gravando na memória dogmas e isto é claro após tantos séculos de sobrevivência humana.

Nesta era do século XXI surgem cada vez mais seres humanos nos quais manifestamente se reflete uma vida mental profunda e profícua, gente que sobressai pelo seu modo de ser e estar andando de acordo com seu próprio sentido de vida harmonioso, criando, experimentando, céticos, prudentemente otimistas, em cauteloso andar, sempre atentos, com zelo e energia.

Os seres humanos mais conscientes têm também suas próprias dificuldades e limitações no viver de cada dia e isso é natural pois ninguém nasce sabendo ou dono de uma varinha de condão mas estes humanos sempre andam de mente aberta construindo em si um equilíbrio psíquico e físico.

Nascer é desconhecer os limites físicos e psíquicos, viver é aprendes esses limites e morrer é mergulhar nos limites infinitos da vida.
Valdemar Ribeiro
Enviado por Valdemar Ribeiro em 06/11/2018
Alterado em 08/11/2018