Valdemar Ferreira Ribeiro
...Navegando nos Mares do Sul ... Observando o Norte
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A LIBERDADE E O NEOCOLONIALISMO NO SÉCULO XXI
SER OU NÃO SER

Estamos no século XXI. Ser livre, neste planeta Terra, ninguém é completamente, por mais que pense que é pois na realidade somos apenas parte num todo, somos sim um colectivo humano inseridos em outros colectivos animais, vegetais e minerais, essa é a realidade dos factos comprovados pela ciência mas vivemos muitas vezes na ilusão de que comandamos totalmente nossos actos e nossas vidas e até a vida dos outros, pura ilusão de quem de si se acha bastante pois apenas percepciona o horizonte sentado à varanda de seu quintal.

Os indivíduos ou o colectivo humano não podem sobreviver sozinhos no planeta sem estarem inseridos, interagindo, na companhia de outras espécies pois não conseguiriam um viver físico e espiritual harmonioso, equilibrado e não infeliz.

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OS “AUSTRALOPITHECUS”

Para haver um entendimento mais profundo da mensagem contida neste ensaio, é muito importante que, aqui e agora, se faça uma reflexão antropológica ampla sobre quem foram os primeiros colonos planetários pois a sociedade humana, os primeiros hominídeos, desenvolveu-se, segundo a ciência e comprovado através do DNA global humano, na região da África Austral, os chamados “Australopithecus”, visto que esta região planetária era muito sustentável em alimentos, as savanas eram frondosas e abundantes em frutos e plantas medicinais, os mares eram ricos em peixe, haviam muitos rios, o clima era excepcional, as terras muito férteis, etc. e são lógicas estas teorias cientificas já comprovadas.

Os seres humanos originais, os “Australopithecus”, conseguiram sobreviver sem muitas dificuldades e à medida que aumentavam em número, a natureza era uma mãe abençoada e benigna, foram espalhando-se por África, pela Ásia, América, Europa e Oceania e foi natural essa expansão pois os seres humanos são curiosos por instinto e muitas vezes são “obrigados” a desafios e a construir e palmilhar caminhos novos.

Os primeiros humanos eram naturalmente escuros de pele pois o clima nesta região Austral assim o exigia visto ser esta cor de pele a que melhor se adapta aos climas quentes e a seus raios solares, é mais resistente e forte, e pode-se afirmar com total realeza que os primeiros humanos a colonizarem o planeta Terra  foram os povos negros da África Austral e isso deve ser um motivo de orgulho e de satisfação para os descendentes mais directos desses primeiros povos e de respeito por parte de todos os outros povos pois a raça humana desenvolveu-se a partir daí.

Com o inicio da colonização planetária pelos povos Australopithecus, em função dos diversos climas e diversos ambientes, naturalmente estes colonizadores do planeta adquiriram características físicas diferentes, na pele, no rosto, no cabelo, na altura, no falar, na cultura de cada um, em geral.

Com o desenvolvimento dos humanos aparentemente diferentes, interiormente são todos semlhantes, nos cinco continentes, apenas com características físicas e culturais diversas, estes povos, na sua luta pela sobrevivência diária, tentavam impor-se uns aos outros e até escravizando os outros para seu próprio beneficio pois consideravam os outros como seres não iguais e ainda hoje assim acontece em muitos lugares do planeta, demonstrando esta atitude um menor desenvolvimento intelectual humano e um patamar cultural pouco elevado.

Foi natural este caminhar humano pois os seres vivos, ao nascerem, não se apresentam com um intelecto muito desenvolvido mas têm um potencial elevado para um desenvolvimento mental à medida em que fisicamente vão crescendo equilibradamente, adquirindo e acumulando mentalmente as experiências das suas próprias vidas e das vidas dos que os antecederam, desde que tenham uma boa alimentação diversificada e estejam inseridos numa cultura colectiva minimamente harmónica e desenvolvida.

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AS INVASÕES COLONIAIS EM ÁFRICA

Os colonizadores portugueses antes do século XV, viajando nas suas caravelas e com suas armas de ferro e pólvora, tecnologias marítimas e militares desenvolvidas anteriormente na Ásia e levadas para a Europa por viajantes, chegaram à costa africana mais ao sul e aportaram nas suas belas praias e já tinham o conhecimento de que a escravatura, praticada desde há muitos anos em regiões da América, da Ásia, da Europa, etc., era um modo de vida económico rentável pois o humano escravo era também uma máquina de produção a ser explorada ao máximo para beneficio económico de seu proprietário e, na visão destes escravagistas, consideravam que alguns humanos são superiores aos outros.

Os povos colonizadores ao aportarem nas praias, mesmo tendo armas de fogo, certamente encontraram resistências nesse contacto com os povos africanos que eram em número muito superior ao seu e provavelmente os invasores não arriscaram de imediato uma entrada nestes territórios invasão pois corriam também risco de morte.

Por isso, deve ter havido muita cautela nessa aproximação física arriscada pois eram povos “estranhos” uns aos outros e logicamente pode-se concluir que a aproximação teve de passar também pela concordância e autorização dos “chefes tribais” ou seus representantes, após uma troca de informações, presentes ou valores económicos como se fez na Amazónia, Brasil, na aproximação com os povos indios no século XX..

Estes colonos invadiram os povos africanos autóctones utilizando-se da força militar mas também, quando encontraram muitas resistências, devem ter desenvolvido esforços ”diplomáticos” para convencerem os chefes tribais e seus representantes e obterem seu consentimento nesta invasão e foi assim, que milhares de africanos foram presos, arrastados e embarcados para a América, longe de suas famílias.

Os colonizadores vieram com seus modos de vida económicos diferentes, errados muitas vezes, escravizadores, extremamente consumistas pois seu intuito era o ganho fácil, rápido e ganancioso, não vieram para um encontro e trocas culturais nem raciais, respeitando os valores culturais intrínsecos a cada um.

A estes povos africanos foi imposta, pela força do magote, uma economia vinda do exterior, estranha e até errada. Etas sociedades humanas viviam em suas regiões, nas suas terras, de forma natural e com seus próprios modelos económicos e, se não fossem estas invasões coloniais, certamente ainda hoje estas nações autóctones poderiam estar a beneficiarem-se de uma economia consubstanciada na sua cultura milenar equilibrada e suas famílias, tanto as que ficaram como as que foram deportadas, não teriam sido desmanteladas e destruídas.

Esta chegada colonial não trouxe benefícios sociais, ambientais e económicos aos povos que viviam nas suas regiões naturais, de uma forma geral, e alterou substancialmente seu “modus vivendi” pois viviam em grupos tribais, com uma cultura ancestral bem adaptada, tranquilamente, e utilizavam-se da natureza de forma correcta e tinham uma subsistência farta e não infeliz, pode-se deduzir.

Eram povos de boa aparência, saudáveis, normalmente em paz nas suas regiões pois as terras eram férteis, são até hoje, imensas, belas savanas e as populações não eram numerosas, o que lhes permitia não terem necessidade de lutar pela posse de suas terras, e como dizia o poeta Camões, português deportado pelos seus pares para África e numa atitude cultural de maior respeito pelas outras culturas pois tinha uma visão mais ampla sobre o mundo, “eram belas terras semeadas de Ninfas e amores”.

O correcto é cada povo desenvolver os seus próprios meios sociais e económicos, à sua maneira e se, com a globalização, acharem por bem alterar seus modos de vidas económicos, sociais e ambientais, é uma escolha própria e teriam tempo para reflectir e se adaptarem aos novos valores. O certo é que ninguém tem o direito de invadir a casa alheia.

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A LIBERDADE E O NEOCOLONIALISMO

No século XX, em Angola e no mundo, muitos cidadãos, a maioria deles “mais velhos”, morreram em defesa de sua identidade própria, na luta pela sua suposta liberdade e pela independência dos territórios ao qual pertenciam desde há muito tempo e agora construindo novas nações.

Não foi fácil a estes cidadãos “mais velhos”, na altura muitos eram jovens, assumirem uma luta pessoal e nacional como também foi uma decisão difícil irem para as matas em defesa destes ideais independentistas e sabendo que a vida nesta luta seria muito complicada em todos os sentidos, incluindo o afastamento de suas próprias famílias e deixando estas muitas vezes à sua sorte. Estes guerreiros puseram em risco sua vida e de sua família, muitas vezes.

Estes “mais velhos”, avós muitos deles, tiveram muita coragem para desenvolverem “per si” esta consciência profunda sobre quem eram e o que pretendiam ser, eles, os seus filhos e netos e sua nova nação, pois era mais fácil e seguro nada fazerem, ficarem amorfos, naquela época de 1950, meados do século XX, aonde o acesso à informação não era democrático como hoje, nem “on line”.

Estes “mais velhos” tinham de ser muito fortes, mental e fisicamente, para decidirem “ir prá mata” lutar pela sua dignidade e de sua família e sabendo que a morte era um dos riscos mais evidentes mas estas dificuldades motivaram ainda mais estes guerreiros de ontem, avós, e como resultado dessa luta individual e colectiva, Angola em 1975 transformou-se numa nação independente e inseriu-se num mundo global com seus próprios pés.

Apesar da luta pela independência das novas nações africanas, as sementes do colonialismo não desapareceram de todo e basta um olhar mais atento, profundo e isento pelas sociedades humanas globais actuais.

Angola e as novas nações, após as independências, conseguiram expurgar uma parte dos “colonialistas europeus”, pessoas diversas que representavam este sistema, mas muitos dos modelos coloniais económicos, sociais e ambientais, alguns bem estruturados e adaptados e outros não, por diversas razões continuaram mas é necessário  uma análise sociológica mais cuidada para aprofundar esta questão e identificar seus pormenores e suas razões de sobrevivência forçada ou não.

Agora, nesta nova era, neste séculoXXI, vieram e continuam a vir neocolonizadores, pessoas diversas e diferentes que representam seus países de origem e que buscam explorar outros povos em seu próprio e exclusivo proveito, exploradores que, nestes países para onde emigram, impõem seus modos de vida particular, agressivos, radicais, e muitas vezes fora da lei, invadindo e extorquindo os incautos mas muitos desses neocolonizadores são protegidos por cidadãos nacionais.

Ou seja, estes novos países lutaram tanto contra um colonizador e venceram mas agora têm de enfrentar diversos e diferentes neocolonizadores com seus próprios modelos nacionalistas e os povos originais tornam-se cada vez mais invisíveis na sua economia e até na política e até aceitam serem subalternos pois a visibilidade é de quem domina economicamente e, muitas vezes, descumprindo a lei. É necessário observar que esta mesma situação está a acontecer em muitos países, incluindo europeus.

Após estes mais de quinhentos anos de exploração e abuso colonial, com resultados extremamente nefastos para as nações africanas e em particular a angolana, como resultado deste neocolonialismo diverso e diferente, milhares e milhares de crianças, jovens e “mais velhos” que até lutaram pela suposta independência de seu país , deambulam pelas ruas das cidades de Angola, nos bairros, de dia, e de noite dormem nas soleiras das casas e das pensões, agasalhados por um pedaço de cartão, à chuva e ao frio a molhar, batendo às portas dos carros na esperança de um pedaço de pão, muitas vezes vasculhando os tambores de lixo e lixeiras humanas à procura de seus sustento, muitos deles indo parar nos cemitérios, num país de potencial económico extremamente elevado.

Quando se estacionam os carros nas ruas destas cidades de hoje, nesta África, o normal é aparecerem dezenas de crianças, da mais tenra idade e até adolescentes e adultos, de mãos estendidas a pedirem um pedaço do céu, uma côdea de broa mesmo que seja dura e velha, e somos obrigados a olhar tudo isto e a pouco poder fazer, apenas no nosso pequeno mundo privado podemos e temos de dar o exemplo, o melhor que podemos e sabemos, e alertar para esta realidade que se vive hoje em dia e que certamente não é auspiciosa.

Angola, agora com estas novas premissas, está a complicar-se cada vez mais, muitos angolanos estão a perder o seu próprio espaço político, geográfico, social, ambiental e económico e o futuro que vem aí não vai ser nada fácil pois a natureza também parece estar a dar uma resposta dura às alterações climáticas que foram causadas principalmente pelas nações que um dia foram ou ainda são os chamados colonizadores, com suas economias consumistas, gananciosas e desequilibradas e estes povos ditos “colonizadores”, hoje em dia também já choram e se lamentam desesperados nos seus próprios países, nos seus quintais, nas suas casas de origem, das desgraças climáticas de hoje e de amanhã, que certamente atingirão todos os humanos, sem excepção.

Angola, neste momento, precisa de pessoas ousadas e comprometidas com um desenvolvimento sustentado, que tenham humildade, reconheçam os erros passados e presentes, de forma a permitir que a voz dos mais competentes e responsáveis sejam ouvidas para se permitir a possibilidade de um maior desenvolvimento económico, social e ambiental sustentado e real mas esta mudança terá de nascer, principalmente, nos e dos jovens e adultos mais conscientes que sabem que seus avós lutaram e morreram pela suposta independência e desenvolvimento de sua nação, de seus filhos e netos.

Os jovens e adultos de hoje, precisam assumir uma postura mais ousada mas mais humilde, mais inteligente, mais sapiente e mais aberta ao diálogo e ao escutarem ideias novas, estas ideias podem ser melhores ou não so que nas suas, devem espelharem-se na coragem de seus avós e seus antecessores pois o acesso à informação hoje em dia é muito mais democrático e qualquer pessoa, no geral, pode obter mais informação e pode desenvolver sua própria consciência e assumir uma atitude mais equilibrada em prol de si e de sua nação.

Muitos jovens e adultos Justificam sua indolência e seu desligar da realidade, afirmando que a culpa é dos outros, dizendo que não têm professores à altura, dizendo que o sistema não os beneficia, dizendo que não são filhos de papais ricos, etc..

Estes jovens e adultos não podem aceitar sua inércia e sua mediocridade dizendo que a culpa é dos outros pois essa atitude nega a sua própria vida, nega a sua individualidade, nega a sua autonomia, nega o seu “ser ou não ser” humano com potencial próprio de inteligência, nega a sua capacidade de construír e de se reconstruir como ser pensante e responsável, capaz de se liderar e ao colectivo a que pertence, esse é o caminho correcto e mais equilibrado, assumir-se, ser  capaz de se projectar sem se desculpar com os outros. Os outros naturalmente também são responsáveis, do que está errado e do que está certo, mas a mudança fundamental está em cada individuo.

Não é seguindo em fila que se desenvolve a inteligência pois quem está atrás só pode ver no máximo o que o da frente vê. É portanto necessário andar em linha pois assim todos têm a mesma possibilidade de ver o horizonte de cada um. O Mestre só é Mestre, só desempenhou suas responsabilidades com  mestria se o discípulo o ultrapassar em conhecimento, só aí o Mestre pode ter um “feed.back” de que alcançou o âmago de seu trabalho.

Construir uma nação nunca é fácil e não se pode simplesmente ser faccioso e destruir tudo o que existe e voltar a construir tudo de novo pois há imensos pormenores passados e presentes intervenientes nessa construção ou seja, começar de novo não é o caminho mais harmonioso e apropriado. O caminho que parece ser mais equilibrado e menos conflituoso é “corrigir o que está mal e melhorar o que pode ser melhorado”, este certamente é o caminho mais sapiente, no caso de reconstruir uma nação que é uma tarefa “sui generis”.

Os jovens de hoje, adultos, precisam urgentemente de se assumirem por completo como seres humanos normais e com potencial de inteligência, seres humanos com duas pernas, com dois braços, com um cérebro, com uma família ou não, etc., pois o acesso à informação, hoje em dia, neste século XXI, é muito maior do que antes, no tempo de seus avós que tanto lutaram e até morreram ou estão a morrer porque seus netos e filhos optaram pelo conformismo e pela inércia, dizendo constantemente que a culpa e a responsabilidade é sempre dos outros. É importante falar mas é mais importante fazer pois “pensar exige esforço”.

Hoje em dia, o acesso à informação, para muitos cidadãos, jovens e adultos, é muito maior do que qualquer rei tinha há mais de trinta anos e esses reis governavam seus países e alguns até governavam muito bem.

Estes milhares e milhões de crianças angolanas e do mundo que vagueiam pelas cidades e divagam pelas ruas batendo às portas das ruas, à procura de um pedaço de carinho do céu, de uma fatia de sorriso, de um brilho no olhar adulto, de um pão, de um abrigo, de um saber que lhes permita serem mais fortes, mais conscientes, mais exigentes, mais responsáveis, querendo inconscientemente encontrar uma alma que os albergue das intempéries desta vida aonde nasceram, e onde ninguém lhes perguntou se queriam ou não nascer aqui e agora, estas crianças são parte integral e profunda de nosso coração e de nossa mente e por isso este grito em nome delas pois elas. Crianças, não são responsáveis das acções não equilibradas dos adultos gananciosos ou inconscientes e são as que menos voz têm neste clamar de seus direitos, apesar delas cumprirem com seus deveres.

Valdemar Ferreira Ribeiro
Economista, empresário industrial, ambientalista
Valdemar Ribeiro
Enviado por Valdemar Ribeiro em 08/07/2021
Alterado em 25/07/2021