GENERAL DE MIM
Aquele pai dizia constantemente ao filho que este devia ser um “bom soldado”.
Moravam nos subúrbios de um bairro qualquer, num país igual a todos, numa residência simples construída pelo pai.
Este pai era um polícia não-graduado e era responsável por uma antiga Fortaleza, tipo castelo, sobranceira ao mar, construída com pedra há centenas de anos, inicialmente utilizada como quartel militar para defender a cidade de alguma invasão que viesse por mar e mais tarde, século vinte, foi utilizada como prisão e este policia, pai, supunha-se com poder apesar de ser um soldado.
O inferior hierárquico, normalmente, é induzido a pensar que reflecte o poder do seu superior e quando está em situações de decidir, repete os mesmos comportamentos do superior.
Quando estava em casa na sua oficina, este pai chamava o filho e o seu primo que era um mecânico de motos, para o ajudarem no conserto de seus trabalhos mecânicos.
O filho deste pai, adolescente, gostava muito de estudar pois desde menino percebeu que este era o melhor caminho para evoluir culturalmente mas este pai obrigava o filho a permanentemente trabalhar consigo na oficina.
O primo, também adolescente, não gostava de estudar e seu modo de vida era a mecânica e este pai, frequentemente elogiava o primo dizendo que a mecânica era o melhor caminho para uma profissão e que o filho também devia ser mecânico.
Alguns adolescentes que também moravam naquele bairro perto de sua casa, muitas vezes estavam sentados nos muros das casas a “jogarem conversa fora”, sem nada para fazerem, esperando a hora de ir jogar à bola ou voltarem a sentar nos muros.
Este menino, percebia que estes seus colegas de bairro não tinham tempo nem hora para estudar e não apreciava este tipo de atitude e, em segredo, refletia consigo mesmo: - “eu não quero ser soldado, quero ser General de mim”.
Pensando assim, este adolescente, sempre que podia, fugia das tarefas de mecânico que não lhe agradavam nem via futuro nisso e buscava como companhia outros rapazes e meninas que viviam em outros bairros e estudavam pois seus pais eram médicos, professores, engenheiros, filhos de pessoas com profissões que, na sua visão, eram mais interessantes.
Buscava ter como colegas outros jovens que supunha serem mais desenvolvidos, colegas que gostavam de estudar pois pensava: - se eles tinham uma vida melhor do que a sua, no seu modo de entender a vida, então podia aprender com eles e assim procurou construir seu caminho estudantil, mesmo sem a ajuda de seu pai, pois tinha como certo que não queria ser um “soldado”.
A maioria dos seres humanos, por terem nascido em determinados países e determinadas regiões geográficas, com culturas específicas diferenciadas, com interesses políticos particulares, com hábitos e costumes muito próprios, não conseguem fugir das influências mentais do meio social, económico, político aonde nasceram e vivem e aceitam estas condições como naturais, sem aprofundar os valores das mesmas.
Quando se observa o mundo de hoje, neste século XXI, constata-se muitas vezes que os grupos que emigram para outros países muitas vezes isolam-se em “guetos” pois suas culturas diferem muito das culturas que encontram nesses novos lugares.
Este isolamento de culturas não permite, muitas vezes, que se olhem outros novos valores culturais e se aprendam esses valores se forem melhores pois há muitas vezes uma formatação de ideias, das culturas de onde se veio e não há espaço para novos valores educacionais que podem até ser melhores ou não.
Há grupos na sociedade humana, que desde tenra idade obrigam as crianças a repetirem durante horas e dias seguidos os dizeres de livros que eles denominam como sagrados.
O que acontece com uma mente que é formatada durante muitos anos repetindo os mesmos dizeres? Há aqui uma lavagem cerebral, uma formatação da mente e, se estas pessoas estão formatadas, poderão elas ter um pensamento livre, independente, um pensar inteligente ou estarem aptas a descobrirem novos valores de vida?
Se esta pessoa formatada for instruída a explodir uma bomba fixada em seu corpo e matar muitas pessoas, será ela capaz de pensar e perceber que aquele acto não está correcto?
Quando este autor foi estudar para o Brasil, indo de outro país, procurou não se isolar em guetos raciais e foi estudar os valores da nova cultura brasileira.
Há medida que aprendia novos valores e reflectia sobre os mesmos, permitiu-se ficar com os valores culturais que considerava melhores e desse modo foi evoluindo seus conhecimentos.
E sempre que tinha a sorte de encontrar uma nova cultura, observava e aprendia os novos valores culturais e selecionava para si aqueles que considerava melhor e hoje considera-se como um ser humano com uma cultura miscigenada, com uma visão holística do mundo global.
Sua pátria passou a ser reverenciada da seguinte forma “ MINHA PÁTRIA SÃO AS LINGUAS E CULTURAS QUE NOS UNEM”.
Esta visão mais ampla e miscigenada, permite-lhe perceber que a sociedade humana não consegue evoluir mais por desconhecer os valores culturais uns dos outros e isolam-se em guetos culturais, formatando as ideias desde criança e tornando-se adultos radicais ao ponto de explodirem bombas fixadas em seus corpos, em nome de um ser que diz ser divino e que só existe em sua mente.
Este menino cujo pai queria que ele fosse soldado, sempre estudou por sua conta e risco e tornou-se num general de si mesmo e isso lhe permitiu estar mais atento à vida e caminhar de acordo com os valores que considera mais sustentáveis, mais equilibrados.
Valdemar Ribeiro
Enviado por Valdemar Ribeiro em 23/01/2024